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Respirar Pelo Nariz: O Primeiro Passo para Dormir Bem e Viver Melhor

Respirar pelo nariz parece algo tão automático que raramente paramos para pensar na importância disso. Mas a verdade é que essa simples ação pode determinar como você dorme, como você acorda — e até como você vive.

Muito além de permitir a entrada de ar, o nariz aquece, filtra e umidifica tudo o que inspiramos. Ele protege as vias aéreas, regula o fluxo e contribui para o bom funcionamento do cérebro, do coração e até do humor. Quando não funciona como deveria, tudo se desajusta — começando por aquilo que mais deveria nos restaurar: o sono.



Quando o ar não passa...

Nem sempre é fácil perceber que o nariz está atrapalhando a respiração. Alguns se acostumam com a sensação de nariz entupido, com o ronco, com a boca seca ao acordar. Outros só descobrem o problema quando enfrentam dificuldades no uso do CPAP, cansaço constante ou crises recorrentes de sinusite. Por trás de muitos quadros de sono ruim, está uma obstrução nasal — e as causas são diversas.

As alterações anatômicas, como desvios de septo e hipertrofias dos cornetos, são extremamente comuns. Já as rinites, alérgicas ou não, inflamam a mucosa e comprometem o fluxo de ar. As infecções, como as sinusites crônicas, geram inflamações persistentes que só agravam o quadro. Em comum, todas essas condições têm um ponto crítico: atrapalham a respiração e impactam diretamente a qualidade do sono.


A noite que se parte em pedaços

Durante o sono, a respiração nasal é ainda mais importante. Ela ajuda a manter a via aérea superior aberta e favorece um sono contínuo. Quando o nariz está obstruído, o corpo compensa respirando pela boca, o que altera a pressão negativa nas vias aéreas e facilita seu colabamento. O resultado pode ser o ronco ou até episódios de apneia obstrutiva do sono, em que a respiração realmente para por alguns segundos.

Mesmo em casos mais leves, essa obstrução nasal pode levar a microdespertares frequentes que fragmentam o sono e impedem que ele cumpra seu papel restaurador. Acordar várias vezes à noite, mesmo sem perceber, é como interromper um ciclo de recuperação — e isso se traduz em cansaço, irritabilidade e menor desempenho ao longo do dia.


Otorrino: muito além do “ouvido, nariz e garganta”

É aqui que entra o papel essencial do otorrinolaringologista. Não basta tratar sintomas — é preciso entender a origem do problema. Por isso, além da escuta clínica detalhada, exames como a nasofibrolaringoscopia (que permite visualizar, em tempo real, a via aérea superior), a tomografia de face e pescoço, e os testes alérgicos (como o prick test e a dosagem de IgE sérica) são fundamentais para um diagnóstico preciso.

Quando detectada a causa, o tratamento pode ir desde um bom controle clínico — com sprays nasais, imunoterapia, antialérgicos — até procedimentos cirúrgicos que restauram a função nasal, como a septoplastia, turbinectomia, sinusectomias ou mesmo correções da válvula nasal. Tudo de forma personalizada, com foco na função e na melhoria da qualidade de vida.


E quando a criança é quem não respira?

A infância é um capítulo à parte. Crianças que respiram mal pelo nariz geralmente não sabem verbalizar o problema, mas deixam pistas: dormem de boca aberta, roncam, têm sono agitado, pesadelos, acordam cansadas. Muitas vezes, o culpado é o aumento da adenoide — um tecido que cresce atrás do nariz e bloqueia a passagem do ar.

Quando associado a amígdalas grandes, o impacto é ainda maior. O sono da criança se torna fragmentado, e isso pode afetar não só o comportamento e o aprendizado, mas também o desenvolvimento facial e a arcada dentária. Por isso, o diagnóstico precoce é fundamental — e, em muitos casos, a solução está em cirurgias simples, como a adenoidectomia ou adenoamigdalectomia, que transformam a vida da criança (e de quem convive com ela).


Respirar bem é viver bem

O sono de qualidade começa antes de dormir — e começa com a forma como respiramos durante o dia. A respiração, por sua vez, começa pelo nariz. Ou, pelo menos, deveria começar.

Se você ronca, dorme mal, sente a boca seca ao acordar ou tem crises de sinusite frequentes, seu corpo está dando sinais. Ouça-o! O nariz pode estar falando mais do que parece.

E, quando for preciso, procure um especialista que veja além dos sintomas. Dormir bem não é luxo — é necessidade. E respirar bem, pelo nariz, é o primeiro passo.


Referências:

  1. Eccles, R. (2000). Nasal airflow in health and disease. Acta Oto-Laryngologica, 120(5), 580–595.

  2. Bhat, V. K., & Sheikh, S. (2016). Nasal obstruction and sleep-disordered breathing. Indian Journal of Otolaryngology and Head & Neck Surgery, 68(1), 14–20.

  3. Hasegawa, M., et al. (2003). Nasal obstruction and sleep apnea. Archives of Otolaryngology–Head & Neck Surgery, 129(12), 1342–1346.

  4. American Academy of Sleep Medicine. International Classification of Sleep Disorders – Third Edition (ICSD-3). Darien, IL: AASM, 2014.

  5. Jefferson, Y. (2010). Mouth breathing: Adverse effects on facial growth, health, academics, and behavior. General Dentistry, 58(1), 18–25.

  6. Sociedade Brasileira de Otorrinolaringologia. “Respiração nasal e distúrbios do sono” (Informativo técnico).

 
 
 

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