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O avanço tecnológico e o declínio do sono: qual a relação?

O avanço da tecnologia tem transformado nossas vidas de maneiras significativas, facilitando a comunicação, o acesso à informação e o entretenimento. No entanto, o uso excessivo de dispositivos eletrônicos, especialmente antes de dormir, pode ter um impacto negativo na qualidade do sono. Entenda como:


O Impacto da Luz Azul

Os dispositivos eletrônicos, como smartphones, tablets e computadores, emitem a luz azul que pode interferir na produção de melatonina, o hormônio que regula o sono. A melatonina é produzida pela glândula pineal e sua produção ocorre especialmente à noite, principalmente na ausência de luz, preparando o corpo para o sono. A exposição à luz azul durante a noite pode atrasar o início do sono e reduzir sua qualidade e uma das causas é a redução dos níveis de melatonina.

Estudos mostram que a luz azul suprime a produção de melatonina mais do que outras formas de luz, prolongando o estado de alerta e dificultando a preparação do corpo para dormir (Chang et al., 2015).

Além disso, a luz azul pode influenciar o ritmo circadiano, o relógio biológico interno que regula os ciclos de sono e vigília. A exposição à luz azul no final do dia pode enganar o cérebro, fazendo-o pensar que ainda é dia e, assim, adiando o ciclo de sono (Brainard et al., 2001). Este atraso pode resultar em menos horas de sono e em um sono de menor qualidade.


Efeitos na Qualidade do Sono

A exposição à luz azul não é o único problema. O uso de dispositivos eletrônicos antes de dormir também pode aumentar a atividade mental, dificultando o relaxamento necessário para uma boa noite de sono. A interação constante com as redes sociais, e-mails e jogos pode manter o cérebro em estado de alerta, resultando em dificuldades para adormecer e um sono menos reparador.

Um estudo realizado pela Universidade de Harvard encontrou uma correlação significativa entre o uso de dispositivos eletrônicos antes de dormir e a redução do tempo total de sono, bem como a qualidade do sono. A pesquisa sugere que indivíduos que utilizam dispositivos eletrônicos por pelo menos uma hora antes de dormir têm mais dificuldades para adormecer e relatam níveis mais altos de cansaço durante o dia seguinte (Czeisler, 2013).

Além disso, a presença de dispositivos eletrônicos no quarto pode levar à fragmentação do sono. Notificações e sons emitidos por esses dispositivos podem causar despertares noturnos, interrompendo os ciclos do sono. Estudos indicam que a interrupção do sono pode afetar negativamente a memória, a concentração e o humor (Dewald et al., 2010).


Efeitos Psicológicos e Comportamentais

O uso excessivo de tecnologia, especialmente redes sociais, pode levar a problemas de saúde mental que, por sua vez, afetam o sono. A constante comparação com os outros e a pressão para estar sempre conectado podem aumentar os níveis de estresse e ansiedade. Um estudo publicado no Journal of Youth and Adolescence descobriu que o uso intensivo de redes sociais está associado a níveis mais altos de ansiedade e depressão, o que pode contribuir para problemas de sono (Woods & Scott, 2016).

A luz azul não é a única culpada; o conteúdo que consumimos também desempenha um papel crucial. Jogos eletrônicos, filmes de ação e até mesmo debates acalorados nas redes sociais podem aumentar a excitação mental, dificultando o relaxamento necessário para adormecer. A estimulação contínua pode manter o cérebro ativo, impedindo a transição natural para o sono.


Estratégias para Minimizar os Efeitos Negativos

Para melhorar a qualidade do sono, é essencial adotar estratégias que minimizem os efeitos negativos da tecnologia:


  1. Estabelecer um Período Livre de Dispositivos: Defina um período de pelo menos uma hora antes de dormir sem o uso de dispositivos eletrônicos. Esse tempo permite que seu corpo comece a produzir melatonina naturalmente, preparando-o para o sono. Considere atividades relaxantes como leitura de livros impressos, meditação ou um banho morno.

  2. Utilizar Filtros de Luz Azul: Muitos dispositivos oferecem configurações para reduzir a emissão de luz azul. Use filtros de luz azul ou aplicativos que ajustam a temperatura da cor da tela conforme o horário do dia, reduzindo a quantidade de luz azul durante a noite. Estudos mostram que a utilização desses filtros pode melhorar a qualidade do sono (van der Lely et al., 2015).

  3. Criação de um Ambiente Propício ao Sono: Transforme seu quarto em um ambiente favorável ao sono, mantendo-o escuro, silencioso e fresco. Considere o uso de máscaras de dormir e tampões de ouvido, se necessário. A remoção de dispositivos eletrônicos do quarto pode ajudar a reduzir distrações e interrupções.

  4. Prática de Técnicas de Relaxamento: Antes de dormir, adote práticas de relaxamento, como a leitura de um livro (em papel), meditação ou exercícios de respiração. Essas atividades ajudam a acalmar a mente e preparar o corpo para uma noite de sono reparadora. Técnicas de mindfulness, como a atenção plena na respiração, podem ser particularmente eficazes para reduzir a ansiedade e melhorar a qualidade do sono (Rusch et al., 2019).

  5. Educação e Consciência: É importante educar-se sobre os efeitos da tecnologia no sono e conscientizar-se dos hábitos que podem estar prejudicando seu descanso. Manter-se informado sobre os últimos estudos e recomendações pode ajudar a tomar decisões mais saudáveis.


A tecnologia é uma parte inevitável da vida moderna, mas seu uso descontrolado pode prejudicar significativamente a qualidade do sono. Ao implementar estratégias para reduzir a exposição à luz azul e adotar práticas que promovam o relaxamento, é possível mitigar esses efeitos e garantir um sono mais saudável e reparador. A compreensão dos mecanismos pelos quais a tecnologia afeta o sono é essencial para desenvolver hábitos que promovam a saúde e o bem-estar.


Para mais dicas sobre como melhorar seu sono, visite meu blog e instagram (@drguilhermebrassanini) e acompanhe nossas atualizações nas redes sociais​​


Referências:

  • Brainard, G. C., Hanifin, J. P., Greeson, J. M., Byrne, B., Glickman, G., Gerner, E., & Rollag, M. D. (2001). Action spectrum for melatonin regulation in humans: evidence for a novel circadian photoreceptor. The Journal of Neuroscience, 21(16), 6405-6412.

  • Chang, A.-M., Aeschbach, D., Duffy, J. F., & Czeisler, C. A. (2015). Evening use of light-emitting eReaders negatively affects sleep, circadian timing, and next-morning alertness. Proceedings of the National Academy of Sciences, 112(4), 1232-1237.

  • Czeisler, C. A. (2013). Perspective: casting light on sleep deficiency. Nature, 497(7450), S13-S13.

  • Dewald, J. F., Meijer, A. M., Oort, F. J., Kerkhof, G. A., & Bögels, S. M. (2010). The influence of sleep quality, sleep duration and sleepiness on school performance in children and adolescents: A meta-analytic review. Sleep Medicine Reviews, 14(3), 179-189.

  • van der Lely, S., Frey, S., Garbazza, C., Wirz-Justice, A., Jenni, O. G., Steiner, R., ... & Schmidt, C. (2015). Blue blocker glasses as a countermeasure for alerting effects of evening light-emitting diode screen exposure in male teenagers. Journal of Adolescent Health, 56(1), 113-119.

  • Woods, H. C., & Scott, H. (2016). # Sleepyteens: Social media use in adolescence is associated with poor sleep quality, anxiety, depression and low self-esteem. Journal of Adolescence, 51, 41-49.

  • Rusch, H. L., Rosario, M., Levison, L. M., Olivera, A., Livingston, W. S., Wu, T., ... & Gill, J. M. (2019). The effect of mindfulness meditation on sleep quality: a systematic review and meta-analysis of randomized controlled trials. Annals of Behavioral Medicine, 53(6), 509-523.

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