A apneia do sono é uma condição que vai muito além do ronco. Trata-se de um distúrbio que pode impactar seriamente a saúde cardiovascular, cognitiva e metabólica, e seu tratamento exige uma abordagem personalizada. Cada paciente apresenta características únicas, e é por isso que a escolha do tratamento ideal não deve se basear apenas em preferências do profissional ou em uma ferramenta específica.

Por que a avaliação é tão importante?
O primeiro passo no tratamento da apneia é uma avaliação completa, que inclui uma análise clínica detalhada, exames que avaliam a anatomia e a polissonografia. Este último é o padrão-ouro para diagnosticar a apneia e determinar sua gravidade. Sem esses dados, é impossível identificar qual abordagem será mais eficaz.
Pesquisas mostram que falhas no tratamento frequentemente ocorrem porque essas etapas são ignoradas. Muitas vezes o paciente recebe uma indicação baseada em preferências do profissional ou em um tratamento mais acessível, muitas vezes sem considerar suas reais necessidades.
Opções de tratamento disponíveis
Embora existam muitas opções de tratamento, cada uma tem suas indicações específicas. Vamos explorar as principais:
CPAP (Pressão Positiva Contínua nas Vias Aéreas):
Considerado o padrão-ouro no tratamento de qualquer quadro de apneia do sono, o CPAP através de uma pressão positiva mantém as vias aéreas abertas durante o sono, promovendo uma respiração contínua e eliminando os eventos de apneia. No entanto, a adaptação ao aparelho pode ser desafiadora para alguns pacientes, especialmente aqueles com desvio de septo ou rinite crônica, que podem exigir tratamentos complementares. Não é incomum indicarmos uma cirurgia nasal para promover uma boa adaptação ao CPAP.
Aparelho intraoral de Avanço Mandibular:
Indicado principalmente para casos de ronco primário e apneias leves a moderados, o aparelho reposiciona a mandíbula trazendo-a para frente para aumentar o espaço das vias aéreas e enrijecer tecidos moles da parede lateral. Estudos demonstram sua eficácia principalmente em paciente não obesos, com bom avanço mandibular voluntário e apneias que pioram na posição supina (barriga para cima). Mas atenção pois ele pode ser contraindicado para pessoas com disfunções da ATM e possíveis efeitos colaterais precisam ser acompanhados de perto. Por isso um acompanhamento com dentista especializado em sono é indispensável para ajustar o dispositivo e garantir os melhores resultados.
Fonoterapia:
Esse tratamento fortalece a musculatura da região orofaríngea, reduzindo a flacidez e contribuindo para a diminuição da apneia. Um estudo publicado na Chest revelou que a fonoterapia pode reduzir eventos de apneia em até 50% e alta efetividade quando associada a outros tratamentos. Apesar de eficaz, ela exige dedicação e sessões regulares. Sempre digo que a fono sempre é bem vinda, pois só traz benefícios e tem pouquíssimas contraindicações. A fonoterapia melhora inclusive a adesão do paciente ao CPAP e aparelho intraoral. Terapias combinadas são muito comuns no manejo da apneia do sono.
Laser Fotona:
Uma tecnologia inovadora e não invasiva que utiliza laser para reduzir a flacidez dos tecidos na garganta. Ideal para pacientes com ronco primário, apneias leves a moderadas, o Fotona é uma opção promissora, mas requer uma avaliação cuidadosa para evitar expectativas irreais. Assim como a fonoterapia o Laser sempre é bem vindo uma vez que o procedimento melhora o tecido que recobre a garganta. Vai ser sempre uma questão de “custo x benefício“.
Cirurgias:
Indicações cirúrgicas são reservadas para alterações anatômicas importantes, como hipertrofia das amígdalas, parede muscular da garganta medianizada, alterações esqueléticas relevantes. Embora possam ser eficazes, nem sempre resolvem completamente a apneia e devem ser realizadas apenas após uma análise criteriosa. O cirurgião deve ser experiente e atualizado em relação as técnicas cirúrgicas que sofrem atualizações constantemente. Em relação a cirurgia nasal, como já dito anteriormente, são realizadas para promover a adesão a tratamentos clínicos como CPAP, porém não necessariamente melhoram o ronco e a apneia. Estudos mostram que as cirurgias nasais quando indicadas melhoram a qualidade do sono, a sonolência diurna, a qualidade de vida e a performance nos esportes.
Medidas comportamentais:
Mudanças no estilo de vida, como perda de peso, prática de exercícios físicos e evitar álcool e sedativos antes de dormir, são essenciais em qualquer plano de tratamento. Estudos sugerem que uma perda de peso de 10% pode reduzir significativamente os eventos de apneia. Trabalhar a ergonomia do sono, evitando a posição supina por exemplo pode trazer benefícios em alguns casos.
Medicações para perda de peso:
Recentemente, medicamentos como a tirzepatida têm mostrado resultados animadores em pacientes obesos com apneia, abrindo novas possibilidades de tratamento para casos específicos.
Escolhendo o tratamento certo
A escolha do tratamento depende de vários fatores: gravidade da apneia, anatomia das vias aéreas e adesão do paciente ao tratamento. Um estudo publicado no American Journal of Respiratory and Critical Care Medicine destacou que pacientes que participam ativamente do processo de decisão têm maiores taxas de sucesso no tratamento, o que reforça a importância de alinhar expectativas e preferências.
Além disso, o tratamento da apneia geralmente envolve uma equipe multidisciplinar, que pode incluir otorrinolaringologistas, dentistas, fisioterapeutas respiratórios e fonoterapeutas. Essa abordagem integrada é a chave para um resultado eficaz e duradouro.
Tratar a apneia do sono vai muito além de escolher uma ferramenta ou método. Envolve compreender as necessidades individuais de cada paciente e, a partir daí, construir um plano terapêutico personalizado. Com a abordagem certa, é possível não apenas melhorar a qualidade do sono, mas também transformar a saúde e o bem-estar geral.
E lembre-se sempre: não existe solução mágica e única que sirva para todo mundo. Por isso se algum profissional te indicar um tratamento sem prévia avaliação minuciosa tenha consciência que o resultado será uma mera questão de sorte ou azar.
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Referências Científicas
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Ramar K, Malhotra RK, Carden KA, et al. Sleep Apnea Treatment Options. Chest. 2019;155(4):832–846.
Camacho M, Certal V, Abdullatif J, et al. Myofunctional therapy to treat obstructive sleep apnea: A systematic review and meta-analysis. Chest. 2015;148(4):544–556.
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